Não sabia por que havia nas pessoas tamanho medo – tão grande – da solidão. Não entendia a ideia obsessiva que todos praticavam de procurar alguém com quem ficar junto para sempre, a busca incansável por uma companhia agradável, incondicional e eterna...
Hellah era feliz – muito e bastante – quando vivia na solidão profunda do mundo que criara, no vazio cheio de luminosidade que preenchia os dias que eram os seus. Lembrava-se de que a indiferença dos outrens era o que dava-lhe mais prazer, posto que sentia-se leve e livre para ser o que era, o que pensava ser e o que sempre seria, sem dissimulações ou máscaras.
Até que ele apareceu. Pode ser que a limitação de um nome seja desnecessidade grande para a compreensão da história. Nome dele, em verdades todas, nem faz diferença mínima no desenrolar dos fatos. Pode ser que não. Talvez se Hellah fosse mística ou fútil, encontrasse significado qualquer que fosse numérico, quiçá astrológico, para o nome dele... O caso, entretanto, não configura-se em tais formas.
Importante – isso sim – é descrevê-lo. Ele é algo assim que nem um príncipe encantado: belo, inteligente, corajoso, forte e, ao mesmo tempo, romântico, carinhoso, atencioso e apaixonado. É bom que se diga que é apaixonado por Hellah, o que poderia causar inveja a qualquer uma dessas garotas sonhadoras e esvoaçadas que há por aí, mas que causa, a Hellah, um misto de compaixão e tédio. Compaixão por ele, moço de características tão singulares, que bem poderia conquistar quem quisesse, ter a ilusão besta de escolher justamente o enamorar-se dela... Tédio pelo desperdício de tempo e energia dele, gastos em vãs tentativas de acordar um coração já em coma por período muito longo de dormência....
