Tão linda era a borboleta – vendo-se refletida na água do lago, apaixonou-se por si mesma sem desconfiar de que as coisas eram assim. Todos os dias esvoejava sobre as águas, enamorada da imagem colorida que via, namorando o que pensava ser seu par. Tornara-se feliz e jurava-se correspondida, sentia-se completa e favorecida pelas sortes todas deste mundo – não era todo mundo que havia-se em tantas alegrias conjuntas como eram as dela.

E o tempo passou e a borboleta aprendeu a passar o tempo todo parada na superfície da água, em companhia do reflexo que acreditava ser seu amor perfeito e eterno. Até o dia em que um peixe desses vulgares, que habitam lagos vulgares e exercem hábitos de vida vulgares, encontrou – na linda borboleta enamorada de si mesma – alento para a fome que sentia.