Desencanto


A Mennynnah, um dia, descobriu um poder bizarro e inútil que tinha: transformava, com seu beijo, príncipes em sapos. Deu-se conta, assim, de que estaria fadada à eterna escolha entre solitude e desencanto. Pois que o feitiço não tinha cura e seus efeitos não tinham volta.

O que fazer ante tal dilema? Transformar príncipes encantados em sapos asquerosos ou aceitar-se para sempre só? Chegou a experimentar os beijos em sapos, para testar se coisa qualquer acontecia. Em vão. O feitiço não funcionava às avessas. Restava esperar que houvesse no mundo príncipe com poder idêntico ao seu – o de transformar princesas em anfíbios, de modo que o beijo dele nela e o beijo dela nele transformassem ela e ele em bichos da mesma espécie?

Foi assim que a Mennynnah compreendeu a parte do destino que lhe cabia como carma – aquela que jamais poderia alterar. Não sabia o que fazer, mas agora sabia o que não mais poderia fazer. Não era a maneira ideal de se estar diante da vida, mas, em todo caso, era ao menos o estabelecimento de um critério.